O clássico a três fora das quatro linhas: quem esteve melhor no mercado de transferências?
por Hugo Cruz | por Claudio Ferreira

Encerrou na passada segunda-feira mais uma roda-viva de emoções com a loucura do mercado de transferências nos principais campeonatos europeus e o verão de 2025-2026 ficará marcado pelo maior investimento de sempre dos candidatos ao título em Portugal, em conjunto. Caído o pano até janeiro próximo, estando os clubes portugueses impossibilitados de contratar se não jogadores livres sem contrato, é hora de nos debruçarmos sobre a forma como Sporting, Benfica e FC Porto se movimentaram no mercado.
Aqui, faremos uma avaliação global daquilo que foram as suas contratações e as suas saídas. Muitos milhões foram gastos, o Benfica ultrapassou mesmo a fasquia dos 100 milhões, no FC Porto houve uma profunda reformulação ao plantel com investimento bem próximo à centena de milhões e no campeão o destaque vai para as alterações na frente de ataque, com a saída de Gyökeres e as chegadas de Luis Suárez e Fotis Ioannidis. Saiba mais!
O campeão foi o mais cirúrgico?
Em equipa que ganha não se mexe, mas a verdade é que foram feitas algumas mudanças importantes no plantel do campeão nacional. Viktor Gyökeres foi protagonista da maior novela de mercado no verão em Portugal, tendo rumado ao Arsenal depois de não comparecer no arranque dos trabalhos do Sporting, e assume natural destaque na lista de saídas, depois dos 97 golos e 27 assistências em duas épocas ao serviço dos leões.
Também o dinamarquês Conrad Harder partiu de Alvalade, no último dia do mercado de transferências, rumo ao RB Leipzig, mas apenas depois do grego Fotis Ioannidis aterrar em Lisboa. Namoro antigo da direção presidida por Frederico Varandas, o avançado ex-Panathinaikos promete oferecer concorrência de peso ao colombiano Luis Suárez, ex-Almería, que tem se afirmado na frente de ataque da equipa titular leonina.
Com a venda de Gyökeres, Sporting teve a venda mais alta e claro, a que mais será difícil de colmatar
Em resposta a outras saídas de menor cartaz, como são os casos das transferências de Franco Israel, Ricardo Esgaio e Alexandre Brito, o clube verde-e-branco investiu um total de 70.39 milhões de euros para munir o plantel de Rui Borges da qualidade necessária para atacar a conquista do tricampeonato. Os dois avançados custaram cada um cerca de 22 milhões de euros, sendo que Georgios Vagiannidis, ala-direito que chegou para concorrer com Fresneda, representa o terceiro mais investimento do Sporting, que pagou ao Panathinaikos a quantia de 12 milhões pelo jogador.
Destaque ainda para Giorgi Kochorashvili, médio georgiano ex-Levante que subiu com a equipa valenciana em Espanha na última partida, que compõe a linha média como alternativa robusta à titularidade de Hjulmand e Morita; e para o ala-esquerdo Ricardo Mangas, que tem sido uma das melhores surpresas deste início de época no Sporting, que despendeu a modica quantia de 300 mil euros pelo ex-Spartak Moskva.
Benfica com o maior investimento de sempre!
A menos de um mês do ato eleitoral para a estrutura diretiva do Benfica, o presidente Rui Costa protagonizou o maior investimento da história do clube encarnado, num total aproximado de 107 milhões de euros investidos, a contrapor os 97 milhões recebidos. Na folha das saídas, destaque natural para Álvaro Carreras (voltou ao Real Madrid por 50 milhões), Orkun Kökçü, Florentino, Kerem Aktürkoğlu, Angel Di María, Zeki Amdouni, Tiago Gouveia, Arthur Cabral e Andrea Belloti.
Apesar de ter disputado o título nacional até à última jornada do campeonato em 2024-2025 e só ter perdido a Taça de Portugal no prolongamento da final, o Benfica procedeu a muitas alterações, num sinal claro de dar a Bruno Lage condições para montar uma equipa à imagem das suas ideias, com um objetivo de ter resultados imediatos. Também pelo facto de abrir a temporada com a possibilidade de vencer um título (conquistou mesmo a Supertaça diante do Sporting) e por ter de passar pelas fases preliminares da Liga dos Campeões (missão cumprida também).
Lage tem árdua missão de incorporar meia-equipa no sentido de mostrar um futebol muito mais acutilante rapidamente
Todas as linhas foram reforçadas, mas os principais investimentos recaíram no reforço do meio-campo, com os ingressos de Richard Ríos (ex-Palmeiras, por 27 milhões de euros), Enzo Barrenechea (ex-Aston Villa) e Georgiy Sudakov (ex-Shakhtar Donetsk). O Benfica refresca assim o miolo e dota-o de novas características, com acrescento de intensidade no momento sem bola, bem como de maior velocidade e capacidade de passe longo na primeira fase de construção. Nos corredores, Amar Dedic já ganhou destaque, pela qualidade que conseguiu acrescentar ao processo ofensivo pela direita, sendo que na esquerda o jovem espanhol Rafael Obrador deverá ser um claro back-up a Samuel Dahl.
Em cima do fecho de mercado, o Benfica anunciou também Dodi Lukebakio, extremo internacional belga contratado ao Sevilha, que ficou com a camisola que pertencia a Di María e que pode atuar pela direita, tal como o argentino, e pela esquerda. A linha ofensiva foi também reforçada com a adição do croata Franjo Ivanovic, contratado ao Saint-Gilloise por 22.8 milhões de euros para concorrer com Pavlidis pela titularidade no eixo do ataque. Vem mostrando excelentes apontamentos nas primeiras semanas de competição.
Dragão foi o que melhor acertou?
Apesar das mudanças cirúrgicas do Sporting e do elevado investimento e das muitas alterações no Benfica, parece ter sido o FC Porto, de André Villas-Boas, a realizar o mercado de transferências mais completo e adequado às necessidades que a equipa demonstrou na época passada. Desde logo, realce para a mudança de treinador, com a chegada do italiano Francesco Farioli, que tem mostrado grande capacidade de liderança, para lá da subida exponencial na qualidade coletiva do futebol da equipa.
Destaque para Victor Froholdt, jovem médio dinamarquês contratado por 20 milhões ao FC Copenhaga, que apesar da tenra idade (19 anos), pegou de estaca sem precisar de tempo de adaptação, adiantando-se já como peça fundamental nas dinâmicas defensivas e ofensivas de Farioli. Também podemos falar de Gabri Veiga, que também tem ganho o seu espaço nas manobras ofensivas da equipa.
Várias peças novas já encaixaram no modelo de Farioli, que já encantada os adeptos azuis e brancos
No entanto, foi a linha defensiva a ser alvo de mais alterações, com as saídas de Otávio Ataíde, Zé Pedro e João Mário. Em sentido contrário, chegaram o experiente internacional polaco Jan Bednarek (ex-Southampton), o compatriota Jakub Kiwior (ex-Arsenal), o jovem Dominik Prpic e o lateral-direito português Alberto Costa, que chegou proveniente da Juventus por 15 milhões, sendo a segunda contratação mais cara dos dragões.
A fechar a janela das principais aquisições, chegaram várias opções que também poderão destacar-se nesta temporada. Surgiram os nomes de Luuk de Jong, experiente ponta-de-lança neerlandês (que reforça a qualidade para a frente do ataque azul-e-branco), do extremo espanhol Borja Sainz (proveniente do futebol inglês, mais especificamente do Norwich) e do médio Pablo Rosario, que trocou os franceses do Nice pelo FC Porto, por quem fez a estreia no clássico de Alvalade do passado sábado, poucas horas após assinar contrato. Jogadores que até se têm adaptado bem e que já começaram a brilhar nos azuis e brancos.
Que conclusões após este primeiro mês de competição?
A luta pelo título promete ficar mais ao rubro que nunca, numa altura em que os dragões de Farioli já lideram com 12 pontos, mais três que o Benfica (tem jogo em atraso contra o Rio Ave, devido à presença nas pré-eliminatórias da Liga dos Campeões) e que o Sporting. Após um mês de competição, agora interrompido pelos compromissos de seleções (Portugal inicia a caminhada nas qualificações do Mundial 2026), as três maiores potências nacionais parecem estar em patamares bastante semelhantes, o que não aconteceu no último ano, mas que ainda deve ser confirmado.
De facto, o Sporting foi demonstrado ser a melhor equipa, enquanto o FC Porto cedo saiu da corrida ao título e o Benfica tinha duas caras (uma para cada competição importante). Neste momento, as três parecem capazes de derrotarem-se umas às outras. No entanto, ao ter-se um olhar puramente resultadista nestas primeiras semanas da época 2025-2026, o Sporting é o que menos seduz. Entrou a perder a Supertaça diante do Benfica (0-1) e perdeu o primeiro Clássico da Primeira Liga para o FC Porto em casa (1-2). Apesar de ter feito dois bons jogos, mostrando-se superior em vários momentos, o atual campeão nacional é neste momento aquele que viveu menos bem esta janela de transferência.
A perda de Gyökeres foi um golpe bastante duro, sendo quase impossível de colmatar com a mesma qualidade individual. Outras peças interessantes chegaram, mas na frente, os avançados ainda devem fazer as suas provas. Por seu turno, o Benfica foi o que mais investiu, apostado em mudar de cara. Algumas peças que chegaram para ser 'titulares' ainda não se estrearam, podendo-se afirmar que metade do onze titular será constituído por novas peças. Começado pelas laterais. Se Dahl já cá estava, não era titular e Dedic chegou logo a deliciar os adeptos. O meio-campo será totalmente novo e a realidade de frente de ataque não deverá ser muito diferente, embora Pavlidis ainda tenha possibilidades de permanecer no onze, dependendo do esquema tático de Lage (4-4-2 ou 4-3-3?). Também se desconhecem as funções de Aursnes, por exemplo, peça fundamental da equipa.
Analisando esta situação pelo salto de qualidade de cada equipa, o mercado do FC Porto parece ter sido o mais eficaz em todas as linhas. Como já adiantamos, podemos começar no treinador, uma vez que Farioli já conquistou os adeptos com um futebol muito mais identificado com o DNA do Porto, do que na época passada. A equipa está muito mais coesa, agressiva e vistosa. Os resultados também saltam à vista e nem o facto de Farioli ter tirado menino-bonito do onze titular (Rodrigo Mora, que ainda poderá sair com o mercado ainda em aberto noutras ligas) afetou o rendimento nem a simpatia que os adeptos começam a sentir pela sua equipa. O FC Porto chegou muitas vezes a ser apontado como 'o pior Porto de sempre' na última época, mas neste início de época começou a prometer, e muito!